segunda-feira, outubro 11, 2004

 

E vai passando

Pois às vezes ponho- me a pensar, a quantidade de planos e projectos que fiz, as coisas em que me meti, como toda a gente, a quantidade de mudanças que fazemos nas nossas vidas, achando que lhes estamos a dar rumo, ou a acertar o rumo, ou a acostar em bom porto, ou a fugir da tempestade, ou outra metáfora marítima qualquer. E depois damos com os burrinhos todos na água e as coisas correm mal. Apesar de ter existido um princípio de, aparentemente termos começado uma coisa num ponto, que ia ser a tal metáfora marítima, sem sabermos como estamos agora a enterrar os restos, ficando com três coisas:
Um gosto a cinza na boca e uma dúvida de o que é que correu mal. E a dor. E as perguntas: quando é que começou a correr mal. E porquê? E o que podíamos ter feito para evitar? Tantas vezes que podíamos ter feito alguma coisa em vez de ir coçar os tomates para o café e falar com os amigos sobre a homilia do professor Rebelo de Sousa, sobre umas imperiais, que descambaram para os resultados do Euro (foda- se para os gregos, que ainda não se disse mal suficiente sobre os gajos)
Para gosto a cinza. Os judeus, cultura e religião milenar, que já registavam dor e sonhos por terra por escrito antes de o resto da malta, futuramente monoteísta, deixar de chafurdar na lama, a coisa resolve- se com uma fatia de bolo, que ajuda. Para a dor mesmo, existem tantas soluções quantas pessoas, multiplicadas pelos problemas. Agora para as perguntas, isso é que é lixado.
Por um lado temos que pensar nisso. Por outro não podemos analisar demais.
O facto é que, quando nos empenhamos numa coisa a sério e ela vai por terra dói.
E quanto mais nos empenhamos e mais pessoas mete mais tempo vamos demorar a enterrar aquele projecto, parece que mais a dor se aguenta.

Às vezes, gostava de olhar para trás e recuperar todos os bons projectos que tive e que deixei falhar, ou que falharam por si.
E às vezes gostava de saber proteger- me da dor que isso dá, e de proteger as pessoas que se magoam quando as coisas lhes correm mal, mas não é possível, porque afinal o que a malta leva para a vida é a vida.
Faz parte termos vitórias e derrotas, sucessos e falhanços, Totobolas e IRSs (noto que todos temos menos Totobolas que IRSs). Pois faz, porque a vida não é um barco para se lhe orientar o rumo e chegar a um porto. A vida é crescer ou vegetar e, ou melhoramos todos os dias com a porrada que este vale de lágrimas nos manda nos dentes e as coisas boas que nos espeta nas costas, e criamos com isso um ser humano melhor, ou isto um gaijo cada vez tá mais na mesma e anda cá só por ver andar os outros.
O que dói dói, o que é bom às vezes também. e é passar por isso que nos faz crescer, se formos capazes (aproveito desde já para, daqui onde estou, enviar o meu sentido “vai para a puta que te pariu” ao animal que disse que “para apreciar as coisas boas é necessário passar pelas más. Esclarecendo desde já que, para apreciar as coisas boas, é apenas necessário que elas nos aconteçam). E os fins não são começos (cheira-me que essa ideia também foi do individuo referido no parêntesis anterior). A maior parte das vezes os fins nem são fins, são transições. Pronto é isto, mais ou menos.
Ao reler isto parece-me muito um remake do sketch da Sic Radical do gajo que tem que suportar certas e determinadas coisas e aturar coisas que não deve e está para ali a arengar quinze minutos, sem ninguém perceber sobre o quê, nem ele explicar. Ou atão não parece. Mas como essa passagem na Sic Radical foi, de facto, brilhante, talvez o plágio conceptual não seja má ideia.
E já agora, quando começo algo tento marcar o momento com uma comemoração que dê para andar três quinze dias trêbado. Quando as coisas acabam, também acho que o melhor é marcar com uma bebedeira de três quinze dias.

Aliás proponho isenção especial de impostos para as bebedeiras de mês e meio, dada a produtividade que representam.

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